Não era sexta, mas talvez fosse 13.
Já era o meio de um dia de fervor.
Bem ali, na Praça de São Pedro, eu sentia o calor de Olinda pulsar dos meus lados, de cima, debaixo, dentro e fora de mim.
Estava na concentração de um bloco.
A espera do próximo frevo.
A multidão sorria, pulava, cantava.
Era carnaval.
Eu pescava.
Sorrisos.
Olhares.
Canções.
Histórias.
Me perdia em pensamentos.
Me encontrava em sentimentos.
Criava instantes.
Revivia memórias.
Vivia surpresas.
Buscava sem de fato buscar.
Buscava tudo, menos você.
Daí, de repente, tu apareceu.
Cruzou meu caminho, mas parou diante de mim.
Colou teu corpo no meu.
Me notou e, num instante, me viu inteira.
Você olhou fundo nos meus olhos, e tive a sensação de que tu me olhava de verdade.
Em silêncio, tu se perdia em mim na mesma precisão em que eu me perdia em ti.
Tu pediu um beijo. Ou talvez o pedido tenha sido meu. Ou de nenhum de nós. Mas ele estava ali. Era um pedido silencioso, uma súplica.
Tua beleza me desnorteou e eu nem estava preparada para o que viria depois.
Tu me beijou e aquele beijo foi a melhor coisa dos últimos tempos.
Melhor que o beijo foi ver o teu brilho, reluzindo com o glitter da minha cara que tinha ido parar na tua.
Tu cintilava micro arco-íris que combinavam com a cor dos teus olhos verdes, quase no mesmo tom dos meus.
Sem pensar, eu disse: acho que a gente podia tentar ter uns filhos ruivos. Caramba, nem filhos eu quero ter, nunca quis. Mas teu sabor ocupou um espaço em mim que me fez te querer inteiro.
Tua reação foi bela, leve, sem medo.
Um sorriso.
Mais um beijo.
Mais um olhar cintilante.
Tu me colocou nos ombros e disse que não ia me largar. Me carregou por uns metros porque queria me apresentar para alguém. Eu ri.
Tu me olhava e me beijava e olhava de novo e beijava de novo.
Os beijos foram um (re)encontro.
E ali, no meio do frevo, eu me apaixonei por uma nova forma de ser.
Uma que quero para a vida.
E não precisa ser com você, mas seria importante ser.
Ser assim, intensa, feliz, leve, cheia de querer, cheia de sabor, com entrega, sem medo de se mostrar, sem medo de ver. Olho no olho.
E de preferência reluzindo arco-íris.
Obrigada, carnaval.
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