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doce de leite

Ainda me lembro do dia em que compramos juntos os dois potes do doce de leite que tem na minha despensa.


Era um domingo a tarde, o céu azul coloria a cidade, num momento meio raro demais. Você cumpria o teu passatempo favorito e sorria para o sol. Nossas mãos estavam encaixadas enquanto a gente caminhava pelas ruas, indo para a estação. No trajeto, conversas sobre quantos litros de água cabem numa piscina olímpica ou quantos metros tem uma pista de pouso faziam você debulhar lágrimas de risos da minha cara porque eu não tenho noção nenhuma da dimensão das coisas. Estávamos a caminho da casa dos teus pais, íamos fazer um assado e, na rotina das compras do mercado, minha memória talhava as marcas desse dia; tão bom quanto vários outros que vivemos juntos.


Foi sereno.

Foi gostoso.

Tinha riso solto, alma leve, coração tranquilo.


Num dia manso como aquele, hoje me vejo comendo o derradeiro resquício do doce de leite que compramos juntos. Perdida nas memórias, repetidas vezes me pergunto porque não me deixei ser convencida por ti quando, naquele dia, tu disseste que era para eu levar mais. "Você leva depois, quando for me visitar, eles vão estar mais frescos", essa foi minha resposta.


E meu erro.


Me perdi nas expectativas e acreditei que haveria um depois.

Não teve.


Tal qual o doce de leite que me proporcionou sua última colherada de satisfação, nós dois acabamos. Se soubesse disso naquele dia, tinha comprado mais uns potes, só para recordar teu sabor... quer dizer, o gosto do doce de leite.



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